Search

A diversão dos fantasmas – Instituto Moreira Salles

No circuito cinematográfico brasileiro está disponível uma ótima produção que serve como um alívio para o clima de desespero que paira sobre as cidades e o campo como uma nuvem de fumaça. Trata-se da comédia/fantasia/musical “Os fantasmas ainda se divertem”, dirigida por Tim Burton.

Nesta continuação da história envolvendo o excêntrico Beetlejuice (Michael Keaton), alguns dos principais personagens do filme original estão de volta, interpretados pelos mesmos atores e atrizes após 36 anos: Lydia Deetz (Winona Ryder), sua madrasta Delia (Catherine O’Hara) e, é claro, o próprio Beetlejuice.

Sem adentrar em detalhes sobre a trama maluca desta sequência, podemos destacar a constante troca entre o mundo dos vivos e dos mortos, com momentos divertidos na antessala entre ambos, em um contexto em que Lydia se tornou uma celebridade da TV e da internet ao discutir fenômenos de comunicação com o além. Do lar assombrado do primeiro “Beetlejuice” ao castelo de Drácula na Transilvânia, tudo se tornou uma atração turística e espetáculo.

Com essa abordagem, Tim Burton pôde explorar uma comédia autodepreciativa e paródica, com um estilo e energia únicos no cinema contemporâneo.

Alguns críticos apontaram, com razão, o excesso de personagens e subtramas, assim como as mudanças abruptas de gênero e ritmo. No entanto, o diretor e os roteiristas tinham como objetivo principal a diversão, que se sobrepõe à lógica, equilíbrio e convenções sociais. Este filme é uma fantasia anárquica, seguindo a tradição que vem desde Méliès, passando pelos irmãos Marx e pelo grupo Monty Python.

As piadas e brincadeiras surgem de forma espontânea, como se fossem diretamente tiradas de um brainstorm entre amigos criativos, sem qualquer forma de censura ou preocupação com o politicamente correto. A obra é repleta de ideias inspiradas, como a maneira genial de lidar com a ausência do ator que interpretava Charles Deetz, e a forma como o humor negro é explorado de forma inteligente.

A sátira presente no filme atinge diversas esferas da sociedade, como o turismo superficial, o mercado de arte e a loucura da internet. A autoironia está presente em cada cena, através da reciclagem de elementos de outros filmes de Burton e dos momentos em que os personagens parecem se comunicar diretamente com o público.

Em um cenário cinematográfico cada vez mais dominado por diretores que buscam profundidade e complexidade, Tim Burton se destaca por sua abordagem leve e divertida, onde a imaginação serve ao humor e ao entretenimento. A sequência do casamento ao som de “MacArthur Park” é um exemplo sublime desta abordagem.

Para aqueles que ainda não assistiram ao primeiro filme ou desejam revê-lo, “Os fantasmas ainda se divertem” está disponível no canal de streaming Max.

https://ims.com.br/blog-do-cinema/os-fantasmas-ainda-se-divertem-por-jose-geraldo-couto/