Greice em cartaz nos cinemas do IMS Paulista e IMS Poços em julho
A essência da palavra graça abrange uma gama de significados: comédia, elegância, encanto, leveza. Todos esses atributos estão presentes em Greice, um filme luso-brasileiro dirigido por Leonardo Mouramateus, que chega aos cinemas nesta semana.
A história gira em torno de Greice (interpretada por Amandyra), uma jovem de Fortaleza que estuda na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Sua vida parece ser conduzida pela casualidade, ou talvez pela convicção de que ela conseguirá se virar em qualquer situação, graças ao seu carisma, beleza e astúcia.
Greice vive em Portugal com um visto de estudante, mas trabalha como assistente da cantora e dançarina Clea (interpretada por Isabél Zuaa) e gerencia um quiosque de café no centro de Lisboa. Um incidente em uma festa de recepção aos calouros da faculdade faz com que Greice perca sua matrícula e, consequentemente, seu visto. Ela então retorna para Fortaleza, seja em fuga ou para regularizar sua documentação.
Uma abordagem lúdica
O termo “talvez” é recorrente nessa narrativa, devido à natureza fugaz de Greice, e também pela estrutura do enredo que se assemelha a um quebra-cabeças. O espírito lúdico permeia a construção do filme, com sua narrativa não linear, suas elipses temporais e espaciais, e a sobreposição de diálogos em cenas distintas.
Durante boa parte do filme, Greice é uma inventora de pequenas mentiras para escapar de problemas ou obter vantagens. Por exemplo, em meio ao calor cearense, ela se agasalha para simular o inverno português durante uma conversa por Skype com sua mãe.
Greice possui elementos de romance picaresco e comédia de manipulações, assemelhando-se a filmes como “Jogo de Emoções” (1987) e “Nove Rainhas”. No entanto, a personagem Greice não exibe o amoralismo, cinismo ou desejo de enganar comuns ao gênero; tudo em sua personalidade parece genuíno e natural.
Equilíbrio e fluidez
O filme também insinua uma comédia romântica, através do improvável envolvimento de Greice com Enrique (interpretado pelo cantor cearense Dipas), um funcionário do hotel onde ela está hospedada em Fortaleza. Enrique, que também é mototaxista, cantor e dançarino nas horas vagas, se revela outro personagem romântico e de boa índole.
Mouramateus evita enquadrar seu filme em um único gênero, mantendo-o em um ponto de equilíbrio entre várias possibilidades – uma abordagem que se reflete nos próprios personagens. Isso resulta em uma sensação de liberdade que é rara no cinema contemporâneo.
Um dos destaques é a cena em plano-sequência em que Enrique ensina e pratica uma coreografia com seus amigos para um campeonato de swingueira. A câmera captura, sem cortes, um movimento de 360 graus acompanhando a ação, os diálogos e o ritmo da dança. Uma proeza que demonstra preparação meticulosa, mas que se desenrola na tela de forma natural. Como no verso de Drummond, “já não sei se é jogo, ou se poesia”.
A fluidez narrativa, aliada ao roteiro engenhoso, se deve à habilidosa montagem de Karen Akerman e ao talento do jovem elenco. O filme aborda temas atuais de maneira sutil, como os incêndios florestais e a ascensão da extrema direita no Brasil.
Com méritos, Greice recebeu o prêmio de melhor direção no festival IndieLisboa e os de melhor filme, roteiro e atriz (Amandyra) no Olhar de Cinema, em Curitiba.