A filha do palhaço está em exibição nos cinemas do IMS Paulista durante o mês de junho.
Duas maravilhosas produções que estreiam nesta quinta-feira destacam a vitalidade e a variedade do cinema brasileiro atual: o filme carioca A festa de Léo, dirigido por Luciana Bezerra e Gustavo Melo, e o filme cearense A filha do palhaço, dirigido por Pedro Diógenes.
Produzido pelo grupo Nós do Morro, A festa de Léo é um intenso drama social escrito, dirigido e estrelado por artistas vindos da favela do Vidigal, localizada entre bairros luxuosos da zona sul do Rio de Janeiro. O filme acompanha um dia tumultuado na vida da trabalhadora Rita (Cintia Rosa), que está organizando a festa de aniversário de seu filho Leonardo (Arthur Ferreira) ao mesmo tempo em que tenta proteger seu ex-marido Dudu (Jonathan Haagensen) de ser morto por causa de uma dívida com traficantes.
Essa jornada urbana proporciona um retrato vívido da vida na comunidade, com uma variedade de personagens e situações que muitas vezes são ignoradas nos filmes que retratam favelas feitos por cineastas de outros locais, que tendem a ter uma visão simplista do morro como um lugar de violência e crime.
A cidade vista da favela
A mudança na perspectiva – de ver a cidade a partir da favela, e não o contrário – já faz de A festa de Léo um evento cultural e social. Além disso, o filme se destaca por dois motivos principais: 1. A forma como os diferentes eventos (um jogo de futebol, a construção de uma laje, o trabalho em uma barraca de praia, brigas, conversas, festas, rituais religiosos) se entrelaçam para criar um suspense crescente; 2. A maneira sensível como a topografia da favela é explorada, com seus becos, labirintos e arquitetura peculiar à beira-mar.
Desde a impressionante cena de abertura – uma imagem noturna aérea que percorre o morro e se fixa na janela iluminada da casa de Rita – a câmera fluída e inquieta guia o espectador por esse universo em constante movimento, cheio de surpresas. Não há voyeurismo da pobreza aqui, apenas uma atenção à vida que pulsa nas ruas estreitas da favela.
Em meio às histórias que rodeiam a vida de Rita, a dimensão ético-política sempre é presente, mostrando o equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos. Desde o jovem Léo até sua bisavó, todos enfrentam desafios diários, decidindo entre priorizar a si mesmos ou ajudar o próximo – seja o pai, a vizinha, o namorado, o colega ou a amiga.
O filme é claramente contado através de um olhar feminino: mulheres fortes e amorosas lidando com homens frágeis ou brutos. Entre momentos de suspense e alegria, dor e prazer, vemos um organismo coletivo sobrevivendo e encontrando motivos para celebrar, mesmo nas situações mais difíceis.
A filha do palhaço
Embora também explore o contexto social, A filha do palhaço é um drama mais íntimo, focando na relação entre um pai e uma filha (em contraste com A festa de Léo, que abordou a relação entre mãe e filho).
No filme de Pedro Diógenes, o pai é Renato (Demick Lopes), um ator cômico que se transforma na divertida Silvanelly em suas apresentações humorísticas para turistas em bares de Fortaleza. Sua filha de 14 anos, Joana (Sutter Lis), que ele raramente vê, vai passar algum tempo em seu apartamento, longe da mãe.
A partir dessa dinâmica familiar comum no cinema – pai e filha se reconectando após anos de distância – o filme segue caminhos inesperados, com os personagens trocando de papéis em temas como proteção, educação e autoridade. O afeto surge dos conflitos e das diferenças, tornando-se uma constante aprendizagem. É uma jornada emocional em ambas as direções, em que a sexualidade desempenha um papel central.
Embora conte uma história de vínculo familiar, o filme também presta homenagem à tradição do humor cearense, desde Chico Anysio até os artistas contemporâneos. A personagem de Silvanelly é inspirada na Raimundinha, criada pelo humorista Paulo Diógenes (1961-2004), primo do diretor. O amor e o humor se entrelaçam de forma única nesse enredo.
https://ims.com.br/blog-do-cinema/a-festa-de-leo-e-a-filha-do-palhaco-por-jose-geraldo-couto/