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A presença da ausência: obras cinematográficas de Michel Khleifi e Avi Mograbi

Avi Mograbi retornou ao cenário do cinema nos anos 1980, atuando como assistente de direção em produções locais. Ele percebeu, a partir de uma notícia de jornal, que o documentário era um campo fértil para explorar seus interesses. O documentário de média-metragem A reconstrução (Há-Shich’zoor, 1994) utiliza imagens de arquivo para contar as circunstâncias que levaram ao aprisionamento de cinco jovens árabes de classe trabalhadora pelo assassinato de um adolescente israelense em Haifa. O filme expõe como as principais evidências contra os homens – suas próprias reconstruções do crime – foram claramente manipuladas pelos policiais, e destaca que, anos depois, eles ainda aguardam uma análise jurídica de seu apelo.

Abordando a natureza grotesca dos discursos oficiais das autoridades israelenses, Mograbi começou seu primeiro longa-metragem, Como aprendi a superar meu medo e amar Ariel Sharon (Eich hifsakti l’fahed v’lamadeti l’ehov et Ariel Sharon, 1997), narrando sua experiência ao filmar o ex-general e político durante a campanha eleitoral israelense de 1996. Este filme marcou o início de uma série em que o cineasta se coloca à frente das câmeras como protagonista, adotando um perfil satírico que, apesar de suas intenções, acaba colaborando com o governo.

Em Feliz aniversário, sr. Mograbi (Yum huledet same’ach mar Mograbi, 1999), Mograbi se vê em uma situação em que recebe duas propostas de trabalho conflitantes, uma da televisão israelense e outra da televisão palestina, o que o confronta com sua própria realidade como artista e cidadão israelense. Ao participar do projeto palestino, ele é incumbido de filmar as áreas das aldeias palestinas destruídas em 1948, confrontando-se com a história e a realidade conflitantes da região.

Seu filme mais recente, Os primeiros 54 anos (The First 54 Years – An Abbreviated Manual for Military Occupation, 2021), continua a abordar a complexidade da questão palestina por meio de relatos documentais de ex-soldados traumatizados pelos Territórios Ocupados, combinados com cenas mais performáticas do diretor em sua sala de estar, instruindo sobre o controle e a ocupação.

Apesar das críticas por não incluir vozes palestinas em seus filmes, Mograbi argumenta que a presença palestina é subentendida e influente em suas obras. Ele enfatiza a importância de reconhecer a humanidade dos palestinos e enfrentar a realidade da longa guerra e ocupação na região.

Em suma, Avi Mograbi é um cineasta que usa sua arte para questionar e desafiar as narrativas oficiais, refletindo sobre as complexidades e as injustiças da realidade política e social de Israel e Palestina.

https://ims.com.br/blog-do-cinema/a-ausencia-na-presenca-filmes-de-michel-khleifi-e-avi-mograbi-por-aaron-cutler-e-mariana-shellard/