Ignorando toda a agitação em torno do filme “Coringa: Delírio a Dois” desde antes de sua estreia oficial, é inegável que ele não corresponde às expectativas dos fãs como uma continuação direta, e isso não é necessariamente algo negativo. A ambiguidade e o desconforto que o filme provoca fazem parte da experiência que ele busca transmitir.
O enredo do filme começa de maneira lenta, refletindo a falta de propósito do protagonista, que passou dois anos internado no Asilo Arkham. As cenas parecem vazias de significado, mas refletem a resignação de Arthur Fleck após seus atos de violência no filme anterior. A entrada de Lee Quinzel na vida do personagem traz uma nova perspectiva, mostrando como a relação entre eles pode ser uma forma de escapar da solidão e da carência emocional.
Embora muitas expectativas tenham sido criadas em torno de um filme protagonizado por Coringa e Arlequina com o título “Delírio a Dois”, o filme acaba falhando em explorar de forma profunda os aspectos psicológicos dos personagens. As cenas de música e performances não conseguem envolver o espectador e parecem um acréscimo desnecessário à narrativa. No entanto, essas cenas acabam sendo um reflexo da mente perturbada de Arthur e de como ele lida com a realidade.
As cenas no tribunal, embora exageradas em drama, revelam aspectos fundamentais da personalidade de Coringa. A necessidade dele de ser compreendido e validado é explorada, assim como sua busca por identidade e propósito. O filme traz à tona a ideia de que a figura do Coringa é uma máscara para ocultar a dor e a solidão de Arthur.
A evolução do personagem ao reassumir a identidade do Coringa é marcante no filme, mostrando como ele utiliza essa persona como uma forma de lidar com suas emoções e carências. O desfecho ironicamente cruel evidencia a autodestruição e a submissão ao caos de Arthur, culminando em um momento impactante que quebra as expectativas do público.
Apesar de não ser uma obra-prima, “Coringa: Delírio a Dois” consegue explorar de forma profunda as questões internas do personagem principal, mostrando não só o caos que ele espalha em Gotham, mas também o caos interno que o consome. O filme traz à tona a complexidade e a fragilidade de um personagem tão icônico como o Coringa.