Os filmes que adaptam obras literárias clássicas sempre despertam controvérsias e diferentes reações do público. No caso de “Grande sertão”, dirigido por Guel Arraes e com coautoria de Jorge Furtado, a ousadia de ambientar a trama em uma favela distópica-futurista amplifica as características já presentes em comunidades cariocas atuais. A produção, com uma cenografia impressionante apoiada em recursos digitais, cria um universo cinematográfico único que desafia as convenções.
A abordagem do filme, com referências históricas e sociais como Tiradentes e Canudos, sugere uma leitura mais profunda da narrativa, estabelecendo paralelos entre os protagonistas e os conflitos contemporâneos. A transformação dos milicianos e facções das favelas em avatares dos jagunços do sertão cria uma dinâmica instigante, mantendo a essência poética do texto original de Guimarães Rosa.
No entanto, a ambição do filme pode ter levado o diretor a exagerar na estilização visual e sonora, com uma abordagem excessivamente frenética e intensa, que talvez prejudique a experiência do espectador. A busca por uma linguagem mais contemporânea e dinâmica pode resultar em uma sobrecarga sensorial que acaba obscurecendo a riqueza dos diálogos e a profundidade emocional da história.
Mesmo assim, a coragem e a inovação presentes em “Grande sertão” merecem reconhecimento, pois é importante revisitar e reinterpretar as obras clássicas para mantê-las relevantes para as novas gerações. Como disse Italo Calvino, “clássico é um livro que não cessou de dizer o que tinha a dizer”, e essa é a essência da adaptação cinematográfica. Outras versões e abordagens estão por vir, como “O diabo na rua no meio do redemunho”, dirigido por Bia Lessa e estrelado por Caio Blat. A arte continua viva e em constante transformação.
Além disso, o filme “A estação”, dirigido por Cristina Maure, traz uma atmosfera inquietante e misteriosa em um cenário em preto e branco que cativa o espectador pela sua simplicidade e profundidade. A narrativa envolve a chegada de uma mulher a uma estação ferroviária deserta, onde segredos e mistérios se desenrolam de forma sutil e intrigante, preservando o suspense até o desfecho. Uma obra que respeita a inteligência do público e o convida a refletir sobre o desconhecido.
https://ims.com.br/blog-do-cinema/grande-sertao-e-a-estacao-por-jose-geraldo-couto/