Enquanto começo a escrever, ouço Milton Nascimento e acredito que o título (da música “Quem sabe isso quer dizer amor”) fará sentido no final.
Voltar para Poços de Caldas é sempre uma volta ao passado.
A cidade natal carrega um lugar especial em nossos corações, pois, independente dos caminhos percorridos, ela continua lá, influenciando as histórias, memórias e escolhas feitas a partir dela.
Em 2010, aos 18 anos, deixei Poços para estudar cinema na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Essa decisão mudou meu destino, levando-me a vivenciar paisagens e culturas diferentes das que conhecia. Fortalecido por grandes amigos, fundei a produtora Rosza Filmes ao lado do meu sócio Ary Rosa, focando em filmes independentes que exploram a linguagem cinematográfica e narrativas poéticas negras.
Minha trajetória se enraizou nessas narrativas cotidianas do Recôncavo da Bahia. Em certo momento, percebi que me sentia mais conectado e envolvido com as questões e discussões da região do que com minha cidade natal. A identificação e a valorização dos corpos e da cultura foram essenciais nesse processo.
Essa temática ganhou destaque nos últimos anos, com o questionamento das representações no cinema nacional e nas produções audiovisuais. Conquistamos nosso espaço, apesar de não termos sido criados para ser cineastas, arqueólogos ou curadores.
De volta a Poços, percebi assim como o bairro onde cresci, o Serrote, havia mudado ao longo dos anos. A beleza e as imagens desses locais continuam presentes em minha mente e influenciam minha produção cinematográfica.
Nascido em Poços de Caldas, cercado por montanhas e um céu vasto, fui uma criança que apreciava a contemplação, algo que busco manter vivo no cinema. Enquanto muitos cineastas são questionados sobre suas referências cinematográficas, prefiro valorizar a vida e as experiências vividas, que enriquecem mais meu trabalho do que qualquer tela.
Apesar do cinema ser uma paixão, o acesso à salas comerciais era limitado na infância, mas o cineclube no Instituto Moreira Salles se tornou um refúgio, onde desenvolvi o hábito de apreciar diferentes formas de arte.
https://ims.com.br/blog-do-cinema/cheguei-a-tempo-de-te-ver-acordar-por-glenda-nicacio/