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Cinema pelo Instituto Moreira Salles

Para os amantes do cinema e da música, e para aqueles interessados na cultura brasileira das últimas seis décadas, a leitura do extenso livro Cine Subaé – Escritos sobre cinema (1960-2023), de Caetano Veloso, organizado por Claudio Leal e Rodrigo Sombra e publicado pela Companhia das Letras, é indispensável.

Caetano Veloso, um dos grandes poetas da música popular contemporânea, sempre teve uma forte conexão emocional e intelectual com o cinema. Em sua juventude, em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, chegou a considerar seguir a carreira de cineasta. Escreveu suas primeiras críticas de filmes para um jornal local, O Archote, na tentativa de despertar o interesse de seus conterrâneos para o cinema europeu (principalmente o italiano e o francês), em contraponto aos melodramas de Hollywood e do México.

O livro aborda as complexas relações de Caetano com o cinema comercial norte-americano, alternando entre admiração e rejeição, além de explorar sua contribuição musical para o cinema, seus laços pessoais com diversos cineastas e suas reflexões sobre estética e tradição tanto na música quanto no cinema.

Questionando os consensos

A publicação apresenta uma variedade de textos, desde artigos mais elaborados até trechos de entrevistas, textos de press-releases e postagens em redes sociais, revelando uma inteligência crítica sempre disposta a desafiar consensos e preconceitos da época.

Caetano não hesita em criticar filmes e cineastas amplamente elogiados, como foi o caso de sua avaliação sobre “Paris, Texas” de Wim Wenders. Seu pensamento crítico é dinâmico, variando ao longo do tempo, inclusive revisitando suas opiniões sobre diretores como Woody Allen e movimentos cinematográficos como o cinema comercial norte-americano.

Amor incondicional pelo cinema

Apesar das revisões em suas opiniões, suas paixões duradouras por certos diretores, como Fellini, Godard, Kurosawa e Kubrick, permanecem sólidas. Na relação com o cinema brasileiro, Caetano manteve uma postura ecumênica entre o Cinema Novo e o cinema experimental marginal, contribuindo com trilhas sonoras e atuações em filmes brasileiros de destaque.

O livro proporciona uma imersão nas reflexões e emoções de Caetano Veloso sobre o cinema ao longo de seis décadas, destacando sua relação profunda e multifacetada com essa forma de arte. A apreciação do conjunto não requer concordância absoluta com o autor, pois até ele mesmo pode discordar de suas próprias opiniões.

https://ims.com.br/blog-do-cinema/cine-subae-escritos-sobre-cinema-1960-2023-por-jose-geraldo-couto/