No começo dos anos 1960, a renomada artista e escritora norte-americana Storm De Hirsch estava em Roma trabalhando em seu primeiro filme, o longa-metragem de ficção intitulado “Adeus no Espelho” (finalizado em 1964, após seu retorno aos Estados Unidos). De Hirsch, nascida em 1912 em Nova Jersey com o nome de Lillian Malkin, passou um tempo na Itália cobrindo festivais de cinema para publicações americanas e transformou seu filme em um estudo semi-improvisado sobre três estrangeiras enfrentando desafios ao viver na capital italiana.
Apesar de focar nas protagonistas femininas, algo incomum para a época, a diretora se recusava a aceitar a ideia de autoria explicitamente feminina. Ela acreditava que, quando se trata de arte, a questão da alma e do mundo interior é universal, transcendo questões de gênero. A cineasta mantinha conversas com outras figuras influentes do cinema experimental e independente de Nova York, como Shirley Clarke, fazendo parte do movimento conhecido como Novo Cinema Americano.
Storm De Hirsch era uma artista multifacetada, tendo iniciado sua carreira como poeta e posteriormente migrado para o cinema. Sua filmografia explorava temas como ritual, misticismo, magia, sexualidade e a projeção da vida interior para o exterior. Ela estudou mulheres místicas e espirituais como inspiração para seus filmes, que frequentemente utilizavam abstrações psicodélicas e trilhas sonoras para evocar estados de transe.
Seu trabalho foi marcado por uma intensa busca pela natureza primitiva da psique humana, resultando em narrativas oníricas e alegóricas que exploravam a consciência e a passagem do tempo. Storm De Hirsch também citava o cineasta italiano Vittorio De Seta como uma de suas influências, especialmente sua série de documentários sobre o sul da Itália.
Apesar de ter sido inicialmente ignorada pela maioria dos estudos sobre a vanguarda norte-americana, o trabalho de De Hirsch tem recebido mais reconhecimento nos últimos anos, com o lançamento de seus filmes em DVD e a publicação de sua poesia completa. Sua obra oferece uma reflexão profunda sobre a mortalidade humana e a passagem do tempo, revelando visões e evocações que continuam a ecoar com os espectadores contemporâneos.