A justiça é um dos temas mais explorados no cinema, presente em inúmeros filmes, sejam eles de alta qualidade ou não. A amplitude do tema gerou tantos exemplares que é possível separá-los e classificá-los em categorias bem específicas, como aqueles em que o protagonista é um verdadeiro exército de um homem só, forçado a voltar à ativa para enfrentar uma série de desafios em busca da vingança. “Beekeeper — Rede de Vingança” se encaixa nessa categoria, tentando trazer influências mais atuais a uma fórmula clássica. No entanto, ao tentar fazer algo diferente, acabou se perdendo.
A história segue Adam Clay (Jason Statham), um apicultor misterioso que trabalha em um celeiro alugado por Eloise Parker (Phylicia Rashad), por quem ele desenvolve um relacionamento. Quando um golpe faz com que Eloise perca todo o seu dinheiro e resulta em uma tragédia, o passado de Clay como ex-agente da organização clandestina Beekeepers vem à tona. Ele embarca, então, em uma jornada frenética e incansável para se vingar e acabar com todo o sistema criminoso responsável por sua perda. No entanto, a busca de Clay acaba tomando proporções muito maiores, envolvendo governos e poderosas instituições.
Filmes como “Beekeeper” geralmente apostam na intensidade das cenas de ação e na catarse emocional proporcionada pela jornada do protagonista. Aqui não é diferente, especialmente levando em conta os três pilares da produção: Jason Statham, veterano do gênero de ação; direção de David Ayer, envolvido com narrativas policiais desde o início da carreira; e roteiro de Kurt Wimmer, conhecedor do cinema de gênero, embora a qualidade de suas últimas incursões seja questionável, para dizer o mínimo.
Dentre estes, o destaque fica com o protagonista, cuja presença física e habilidades em cenas de ação são inegáveis, entregando mais uma performance sólida, porém nada tão inspirada. Ayer se alinha ao tom da obra, oferecendo momentos de adrenalina, mas sem escapar totalmente das convenções do gênero. No entanto, as cenas de ação deixam a desejar e o público fica ansioso por sequências mais surpreendentes. Apesar destes contratempos, o longa ainda seria um entretenimento simples e honesto, não fosse o roteiro de Wimmer e a necessidade de fugir do que deveria ser o seu foco: abraçar a fórmula e aceitar-se como um clichê.
Por várias vezes a trama esquece seu protagonista para tentar desenvolver outros aspectos. Seja a organização secreta Beekeepers, as metáforas relacionadas às abelhas, ou os vários coadjuvantes apresentados e descartados logo em seguida. O filme assume conscientemente sua natureza genérica, mas essas tentativas de incorporar uma mitologia no background do protagonista não atingem o mesmo sucesso de produções recentes como a franquia “John Wick”. Esses momentos de exposição parecem forçados e destoam da simplicidade que torna filmes desse gênero atraentes. Ao invés de enriquecer, tais elementos enfraquecem a coesão da narrativa. Apesar de alguns diálogos se tornarem cômicos pelo deslocamento, o ápice dessa inconsistência são os personagens secundários, especialmente o enredo envolvendo o FBI e a agente Verona Parker (Emmy Raver-Lampman), filha de Eloise; e a participação de Jeremy Irons como Wallace Westwyld, um ex-diretor da CIA incapaz de causar qualquer impacto na história além de provocar mais medo nas pessoas que ele supostamente deveria proteger.
“Beekeeper” pode não revolucionar o gênero de vingança, mas se esforça para ser um entretenimento genérico. Jason Statham e David Ayer, apesar de se encaixarem bem no molde, não conseguem elevar o filme a patamares mais altos. Enquanto o público pode aproveitar as cenas de ação e a jornada de vingança, a falta de inovação e a tentativa incômoda de expandir o universo do protagonista revelam as limitações do filme dentro de um contexto mais amplo. O que há de mais memorável no longa são, infelizmente, as partes negativas.