Quando o aguardado filme “Y” foi lançado em 2022, foi recebido como uma lufada de ar fresco em um momento pós-pandêmico. A performance impressionante de Mia Goth (conhecida como a neta da renomada atriz brasileira Maria Gladys) foi um motivo convincente para voltar aos cinemas após tanto tempo em isolamento. Porém, pouco se imaginava que no mesmo ano ela se tornaria um meme ao interpretar a peculiar e desesperada personagem principal de “Ruby”. Goth já havia mostrado seu talento, mas ao finalizar a trilogia “Y” encarnando a ambiciosa e destemida protagonista Maxine Minx, ela reitera seu brilho como estrela do cinema. E o desfecho apoteótico desse capítulo dos anos 2020 é entregue magistralmente pelo cineasta Ti West em “Y2K”.
Após sobreviver aos eventos de “Y”, Maxine agora navega pelo obscuro mundo da indústria de entretenimento adulto em Los Angeles, repetindo incansavelmente seu lema: “Não aceitarei uma vida que não mereço”. Para ela, alcançar a fama em seus próprios termos não é um sonho, mas uma obsessão. Em uma cidade impiedosa para quem não tem objetivos claros, Maxine se entrega ao trabalho com determinação, enfrentando o desconhecido sem medo. Enquanto busca sua grande oportunidade em Hollywood, ela terá que lidar com seu passado e os perigos de um ambiente implacável.
“Y2K” começa com uma frase marcante de Bette Davis: “Neste ramo, se você não for conhecida como um monstro, você não é uma estrela”. Essa citação norteia todo o filme. Mia Goth, evitando clichês do terror, eleva Maxine a um status de anti-heroína, uma figura disposta a passar por cima de qualquer um que cruze seu caminho. Mesmo sendo uma personagem complexa e muitas vezes monstruosa, é difícil não torcer por Maxine em sua jornada.
Ti West, que já havia demonstrado habilidade em fazer muito com pouco em “Y”, agora tem liberdade total para criar uma Los Angeles sombria e sangrenta nos mínimos detalhes, mantendo a estética de baixo orçamento. O elenco coadjuvante, com performances brilhantes de Kevin Bacon e Elizabeth Debicki, complementa de forma excepcional a atuação de Mia Goth. Bacon desempenha o papel de contraponto ao olhar determinado de Maxine, enquanto Debicki é ao mesmo tempo imponente e inspiradora.
É interessante comparar “Y2K” com “Era Uma Vez em Hollywood” de Quentin Tarantino, outra homenagem à indústria cinematográfica. Ambos exploram a dualidade entre fama e decadência em cenários impactantes, porém a visão de Ti West parece mais atual e relevante. Enquanto Tarantino retrata uma Los Angeles ensolarada, West apresenta uma cidade sombria e decadente, transformando-a em um pesadelo de neon com ares de filme B e uma sede insaciável por sangue. Uma combinação irresistível.
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