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Elek/Mészáros: Escritores húngaros – Instituto Moreira Salles

Embora Mészáros não concordasse com o termo “cineasta feminista”, a questão da autonomia feminina era um dos temas centrais de sua obra. No entanto, as relações entre as mulheres em seus filmes muitas vezes resultavam em conflitos que levavam à solidão de cada uma. A garota traz Kati Kovács, uma cantora pop húngara, no papel de Erzsébet, uma jovem de 24 anos criada em um orfanato para meninas. Ao iniciar sua vida adulta, trabalhando em uma fábrica de tecidos, ela decide procurar por sua mãe biológica, descobrindo sua localização através de um anúncio no jornal. Ao visitar a mãe em uma aldeia afastada, Erzsébet se depara com uma família rústica que esconde segredos perturbadores. Após um encontro turbulento, ela deixa a casa da mãe, abandonando qualquer esperança de reconciliação.

O filme expõe uma sociedade antiquada, na qual as mulheres são relegadas ao trabalho doméstico enquanto os homens sonham com a vida na cidade grande. Erzsébet, ao voltar para Budapeste, tem um breve encontro com um jovem que a faz sentir acolhida, mas logo percebe o controle masculino em sua liberdade. Em seguida, ela se envolve com um charlatão que a engana em troca de sonhos efêmeros. A personagem principal se comunica principalmente através do olhar penetrante da atriz Kovács, conhecida por sua carreira musical bem-sucedida.

Após seu lançamento em 1968, A garota obteve sucesso nas salas húngaras, durante um período marcado pela Primavera de Praga e protestos estudantis em Paris. Considerado o primeiro longa dirigido por uma mulher na Hungria pós-guerra, o filme marcou a estreia de Mészáros como diretora. Esse feito foi impulsionado pela iniciativa do governo de financiar produções que destacassem a nova geração de cineastas do país, em detrimento dos mais velhos ligados à Revolução Húngara.

Outras diretoras húngaras estrearam seus filmes nesse período, como Lívia Gyarmathy, com a sátira Você conhece “Sunday-Monday”?, e Judit Elek, com A dama de Constantinopla. Este último filme marcou o início da carreira de Elek como diretora, após anos de trabalho como assistente de direção na Hungria e estudos na França. Seu cinema documental e experimental logo chamou a atenção pela abordagem inovadora e crítica social.

Elek e Mészáros contribuíram para o cenário cinematográfico húngaro, abrindo caminho para novas gerações de diretoras. Apesar das dificuldades e reações negativas enfrentadas ao longo de suas carreiras, seus filmes foram redescobertos e restaurados recentemente, ganhando reconhecimento internacional. Suas obras continuam sendo exemplos de um cinema engajado e pessoal, que expõe as realidades de uma sociedade em transformação.

A série A Sessão Mutual Films de julho dedica-se à memória da jornalista Edith Elek, de ascendência húngara, e também às lembranças de figuras importantes do cinema como o ator polonês Jan Nowicki, a diretora húngara Lívia Gyarmathy e o cinegrafista Elemér Ragályi.

 

 


 

[1] Referência em inglês no ensaio em vídeo The World of Márta Mészáros, de Catherine Portuges, encomendado pela Criterion Collection em 2021.

[2] Trecho em húngaro de uma entrevista de 2011 ao site FILMTETT.

[3] Citação em inglês do livro Judit Elek: The Lady from Budapest, publicado em 2023 pelo Festival Internacional de Cinema de Roterdã.

[4] Trecho em inglês da entrevista “Vidas comuns em tempos extraordinários – Entrevista com Márta Mészáros”, publicada no site Senses of Cinema.

[5]Vídeo original da transmissão televisiva disponível no Youtube.

[6] Citação em inglês do livro Judit Elek: The Lady from Budapest.

[7] Fonte em inglês da página do filme no Festival de Cannes, onde foi exibido na mostra Cannes Classics em 2023.

[8] E-mail dos autores deste texto em junho de 2024.

https://ims.com.br/blog-do-cinema/elek-meszaros-cronistas-hungaras-por-aaron-cutler-e-mariana-shellard/