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Em estado selvagem

Em Transe, dirigido por Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, apresenta uma narrativa intensa e perturbadora. O filme aborda um grupo de jovens de classe média em meio ao impacto da ascensão de Bolsonaro, visto como um sinal vindo do inferno. Eles logo percebem que o próprio Brasil é esse inferno.

Situado durante a campanha presidencial de 2018, a história se concentra em três protagonistas que formam um trisal em um pequeno apartamento no Rio de Janeiro. Luisa, Johnny e Ravel parecem ser músicos e artistas performáticos.

Essa configuração inicial lembra um pouco o filme Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, onde três jovens exploram novas formas de amor e amizade em Paris durante os eventos de maio de 1968. No entanto, em Transe, os protagonistas já estão imersos na realidade política desde o início, participando ativamente de protestos e manifestações contra o governo.

 

Realidade e ficção

Um dos pontos marcantes de Transe é a mescla de situações documentais com a ficção. Os personagens são inseridos em eventos reais, como comícios e festas, e interagem com figuras públicas como o pastor Henrique Vieira e o produtor Claudio Prado. Essa mistura de realidade e ficção é reforçada pelo fato dos personagens compartilharem o nome dos atores que os interpretam.

No meio desse cenário complexo, que entrelaça intimidade, cultura e política, a grande questão é a incredulidade dos jovens diante da realidade do país em que vivem. O transe do título se refere não só ao impacto da eleição de Bolsonaro, mas também à sensação de estar à deriva em um ambiente hostil. O filme retrata a luta entre a poesia e o fascismo, além de expor as contradições dentro do próprio movimento progressista.

 

Desvelando o Brasil

Transe busca mostrar o choque de descobrir a verdadeira face do Brasil, a dor de acordar todos os dias nesse contexto e o desejo de transformá-lo. A aposta na arte como forma de resistência é evidenciada na última frase musical do filme, que carrega uma mensagem de romantismo e esperança.

Vale ressaltar o excelente desempenho de todo o elenco, especialmente de Luisa Arraes.

 

Explorando a cultura brasileira

Como contraponto ao cenário sombrio de Transe, o documentário Dorival Caymmi – Um homem de afetos, de Daniela Broitman, apresenta uma imersão na rica cultura popular brasileira por meio da figura de Caymmi.

O filme destaca uma entrevista exclusiva com Caymmi nos anos 1990, onde o compositor fala sobre suas canções, amores e inspirações. Além disso, depoimentos de seus filhos e de outros artistas renomados enriquecem a narrativa, que é embalada pelas magníficas músicas de Caymmi.

Dorival Caymmi – Um homem de afetos opta por uma abordagem simples e respeitosa, destacando a trajetória desse grande artista sem artifícios. O documentário não busca inovações, apenas oferece ao público a oportunidade de conhecer melhor um dos maiores nomes da cultura brasileira.

Em contraste com a visão sombria de Transe, o documentário sobre Caymmi nos lembra da beleza e da riqueza cultural que o Brasil possui.

 

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