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O indivíduo entre a multidão – Instituto Moreira Salles

Ampliando e escrevendo de forma 90% diferente:

“E se “O silêncio dos inocentes” acontecesse em um show de Beyoncé?” Essa ideia aparentemente absurda foi o ponto de partida de um novo projeto cinematográfico de um renomado diretor de Hollywood, que resultou em um suspense cativante e cheio de reviravoltas.

O grande show do filme não é de Beyoncé, mas sim de uma jovem estrela chamada Luna, interpretada pela talentosa Sofia Rayes, que compõe e canta todas as músicas do espetáculo. A maior parte da história se desenrola dentro da enorme arena onde o evento acontece, acompanhando a dinâmica entre o protagonista Max (Robert Pattinson) e sua filha adolescente Luna (Dakota Fanning).

 

A atmosfera e a mente

No meio da agitação e do barulho do local, somos levados a enxergar o mundo pelos olhos de Max, que começa a notar detalhes perturbadores: um número incomum de seguranças, pessoas sendo detidas sem motivo aparente, câmeras de vigilância por toda parte e saídas bloqueadas. Logo descobrimos que a polícia está armando uma armadilha para capturar um perigoso assassino em série que se encontra no local.

O filme se torna uma armadilha para o espectador, manipulando suas percepções e emoções. Em uma homenagem a Hitchcock, a obra brinca com o controle do tempo e do ponto de vista. A longa sequência na arena, desde os momentos antes do show até o fim, é uma exploração minuciosa dos ambientes – plateia, camarotes, bastidores, corredores – e da mente do protagonista.

Cada cena tem um propósito, cada elemento contribui para a construção de suspense e expectativa. A loucura dos personagens se mescla com a loucura do mundo ao redor, em um jogo de espelhos psicológico.

A forma como o diretor conduz a interação entre personagens e ambiente nos remete a outras cenas icônicas filmadas em grandes eventos públicos, como a tentativa de assassinato no concerto em “O homem que sabia demais” (Hitchcock, 1956) e o assassinato durante uma luta de boxe em “Olhos de Serpente” (Brian De Palma, 1998).

Aqueles que buscam inconsistências ou falhas na trama encontrarão material para análise, como a incrível habilidade mental do protagonista. Os críticos que valorizam a profundidade psicológica ou sociológica podem apontar lacunas na explicação do comportamento dos personagens.

 

Superfície e profundidade

A verdadeira profundidade do cinema reside na superfície, nas imagens dos seres, objetos e lugares, e na maneira como tudo isso é manipulado na montagem. Muito mais do que em diálogos explicativos.

A psicologia simplificada apresentada em “Armadilha” é apenas um pretexto para impulsionar a narrativa, assim como em obras de mestres como Hitchcock em “Psicose”, “Pacto Sinistro” e “Sob o Signo de Capricórnio”. A compreensão do filme vai além das palavras.

O diretor parece estar ciente disso. Ao fim do filme, uma piada nos créditos finais quebra a tensão e lembra que tudo não passa de um jogo, uma representação teatral – e escapamos da armadilha diabólica.

 

A poesia em cena

“Grande sertão: veredas” continua inspirando cineastas. Após a adaptação de Guel Arraes, surge nos cinemas “O diabo na rua no meio do redemunho”, dirigido por Bia Lessa. Dois filmes distintos, com abordagens únicas.

Enquanto Guel Arraes modernizou a trama para um cenário urbano futurista, Bia Lessa explorou a fusão entre literatura, teatro, dança e cinema. Originalmente concebido para os palcos, “O diabo na rua…” mantém seu poder poético na tela grande e envolvente.

Caio Blat assume novamente o papel de Riobaldo, contracenando com Luiza Lemmertz como Diadorim, em uma produção repleta de simbolismo e intensidade. Os momentos marcantes do livro são recriados em um cenário infinito, que sugere paisagens com luz e sombra. Um elenco excepcional dá vida a uma gama de personagens, animais e paisagens.

A direção de fotografia de José Roberto Eliezer captura momentos de grande poesia visual, como o funeral de Medeiro Vaz e o monólogo contemplativo de Riobaldo à beira do rio, transportando a beleza da obra de Guimarães Rosa para as telonas com maestria.

Já são três adaptações cinematográficas do livro, além de uma série de TV. E nada impede que novas interpretações surjam no futuro, evidenciando a riqueza e a versatilidade da obra do escritor brasileiro.

https://ims.com.br/blog-do-cinema/armadilha-e-o-diabo-na-rua-no-meio-do-redemunho-por-jose-geraldo-couto/