Byrne percebeu a beleza diversificada de Nova Iorque, com suas influências negras, judaicas, latinas, orientais, punk, hip hop, grafitti, trânsito movimentado, propagandas em outdoors, consumismo e teatro kabuki. Ele decidiu transformar tudo isso em um musical, fugindo do tradicionalismo de formar uma banda de rock e incluindo músicos de diferentes etnias da cidade. A história que ele queria contar ia desde a essência do punk do faça-você-mesmo até o emergente funk da cidade, que estava prestes a mudar o mundo mais uma vez. Assim surgiu o conceito de um concerto que começava de forma simples, com o palco vazio e terminava com uma explosão de cores e ritmos, levando ao nome “Parando de fazer sentido”, o espetáculo “Stop Making Sense”.
Dirigido por Jonathan Demme, o filme “Stop Making Sense” foi registrado em quatro noites com equipamento analógico, revolucionando a forma como os shows eram capturados e levados aos cinemas. A união de diferentes estilos de filmagem musical fez com que o espectador se sentisse parte do show, algo inédito até então. Esse conceito inovador de Demme transformou o filme em uma experiência imersiva para o público, marcando sua importância na história dos shows filmados. E, anos depois, em 2024, o filme foi restaurado e remasterizado, mantendo sua relevância e impacto.
O sucesso de “Stop Making Sense” como o melhor show da história foi desafiado quando David Byrne lançou o projeto “American Utopia” em 2018, abrangendo um álbum, um show e um filme. Essa produção inovadora, em resposta ao cenário político dos EUA, propôs um conceito revolucionário de retirar todos os equipamentos de som e palco, permitindo que os músicos se apresentassem livremente, transformando movimento em música. Essa abordagem única fez com que o show se destacasse e fosse reconhecido como o novo melhor show de todos os tempos pelo site Pitchfork.
O encontro entre Byrne e Spike Lee resultou na direção do filme de “American Utopia”, que inverteu o papel do espectador, tornando o filme a entidade que observava, e o público, o próprio show. Com uma abordagem visual envolvente e provocativa, o filme convida o espectador a internalizar a experiência de um palco despojado e livre de amarras, conectando-se com temas sociais e políticos atuais. A obra de Spike Lee representa um avanço na história do cinema, desafiando a forma como os filmes são tradicionalmente concebidos e consumidos, ampliando seu propósito e sentido.
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