Kenan, de forma metódica e rigorosa, argumenta que a existência de um estado judeu é essencial para a paz dos judeus, defendendo a solução de dois estados para evitar conflitos e desigualdades causados por políticos corruptos. Por outro lado, Hussein, mais reflexivo em suas palavras, fala sobre os direitos específicos que foram negados a ele por uma governança sionista, argumentando em favor de um estado único, laico e sem hierarquias, onde todos possam coexistir. Em certo momento, ele declara: “De nossa parte, tanto eu quanto Amos, não estamos lutando para matar, mas sim para viver. Por isso, é uma tragédia.”
A primeira vez que Rogosin, Hussein e Kenan se encontraram em Israel coincidiu com o lançamento de uma obra fundamental da literatura árabe moderna. “Homens ao sol” (Rijal fi achams, 1963), o romance de estreia do autor palestino Ghassan Kanafani, abordou a questão palestina de maneira alegórica e existencial, em busca de um mundo onde os palestinos pudessem determinar seus próprios destinos. Kanafani, que foi forçado a deixar sua terra natal devido à guerra de 1948, dedicou sua vida à escrita, produzindo 18 livros entre ficção e não-ficção, sempre buscando dar voz ao seu povo.
O encontro desses três personagens se deu em um contexto político conturbado, com tentativas de unificação do mundo árabe e revoluções em países da região. O filme “Os enganados” (Al-makdhu’un, 1972), adaptação de “Homens ao sol”, narra a jornada de três palestinos em busca de sustento, mostrando as dificuldades e tragédias que enfrentam ao longo do caminho. A adaptação cinematográfica deu visibilidade à obra de Kanafani e foi reconhecida internacionalmente como uma importante contribuição ao cinema árabe.
Enquanto Saleh tentava adaptar e realizar “Homens ao sol” nos anos 60, enfrentando desafios de censura e restrições, o ambiente político na região do Oriente Médio continuava volátil. O filme só foi concluído após anos de tentativas e foi bem recebido em festivais internacionais, apesar de não ser amplamente exibido em alguns países da região. A trajetória de Saleh como cineasta reflete os desafios enfrentados por artistas que lidam com questões políticas sensíveis em sua obra.
Os legados de Kanafani, Saleh, Hussein e Kenan são marcados por suas lutas individuais e suas visões sobre o mundo árabe e a questão palestina. Suas obras e ideias continuam a inspirar e questionar, proporcionando reflexões profundas sobre identidade, pertencimento e resistência em um contexto de conflitos e injustiças.
A Sessão Mutual Films deste mês é dedicada à memória de Philip Cintra Shellard, um leitor e pai dedicado, que valorizava o trabalho da Mutual Films.
Nascimento e origem: Os enganados + Diálogo árabe israelense