Auto-representação: um caminho em ascensão
Quando, em 2014, o filme “12 anos de escravidão” fez história ao ser dirigido por um afrodescendente e receber o Oscar de Melhor Filme após quase nove décadas de existência da premiação, foi um marco para a crescente produção de grandes obras realizadas por cineastas negros do norte global. Esses realizadores pareciam sedentos por contar de forma impactante a história do passado, presente e futuro de seu povo, um fenômeno que se tornou evidente em Hollywood e em outras partes do ocidente.
A premiação do principal prêmio do Oscar ao terceiro filme do diretor e artista visual britânico Steve McQueen coincidiu com a indicação de “Selma: uma luta pela igualdade”, dirigido por Ava DuVernay, tornando-a a primeira mulher negra cineasta a ter seu trabalho indicado à categoria de Melhor Filme pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Nos anos seguintes, após o surgimento da campanha “Oscar muito branco” em 2015, vimos um aumento significativo de indicações e premiações para grandes produções dirigidas por cineastas negros britânicos ou americanos. Obras como “Moonlight: sob a luz do luar”, “Pantera Negra”, “Infiltrado na Klan” e “A mulher rei” foram algumas das que se destacaram nesse cenário.
No campo dos serviços de streaming, surgiram séries marcantes focadas na abordagem do racismo e nas experiências de vida de pessoas negras, como “Atlanta”, “Insecure” e “Cara gente branca”. Essas produções conquistaram espectadores ao redor do mundo e geraram grande repercussão midiática.
Essa tendência de valorização e reconhecimento das produções de cineastas negros do norte global na última década reflete um movimento importante no contexto cinematográfico contemporâneo.
Nos Estados Unidos, esse fenômeno pode ser entendido dentro de um contexto histórico mais amplo, que inclui a luta por direitos civis e a representatividade afro-americana desde a década de 1960. Já no Reino Unido, a visibilidade das questões raciais no cinema surgiu de maneira mais pontual e contemporânea, refletindo a complexidade das relações coloniais e raciais no continente europeu.
A atenção às violências históricas e às consequências do passado é uma constante na filmografia de Steve McQueen. Seus filmes abordam temas como o racismo, a opressão e os eventos históricos transformadores, como em “12 anos de escravidão” e “As viúvas”.
O trabalho de McQueen como cineasta reflete uma preocupação em expor as realidades violentas enfrentadas por comunidades minorizadas, tanto historicamente quanto nos dias atuais. Suas obras desafiam o público a refletir sobre o peso das violências passadas e presentes contra afrodescendentes, incentivando formas de enfrentamento, resistência e criatividade artística e cultural.
Em seu mais recente trabalho, o documentário “Occupied City”, McQueen mergulha nas memórias das violências nazistas em Amsterdã durante a Segunda Guerra Mundial, evidenciando como o passado histórico continua a impactar as relações sociais contemporâneas.
O compromisso de McQueen em abordar temas complexos e provocativos em seus filmes, como a violência e a opressão, destaca sua posição como um cineasta engajado em contar histórias autênticas e impactantes sobre a experiência afrodescendente.
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