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Retornando ao Cabra – Instituto Moreira Salles

É evidente que a restauração do filme em DVD, em 2014, inspirou o cineasta a revisitar as locações do Cabra em 2013, reconectando-se com seus antigos companheiros de filmagem. Durante essa visita, ele produziu dois filmes adicionais para o DVD: Sobreviventes de Galileia (2013) e Família de Elizabeth Teixeira (2013), que se tornaram os últimos trabalhos concluídos pelo diretor. Embora pareça que esses filmes sejam uma celebração de si mesmo, eles também prolongam as contradições do projeto inicial. Assim como Cabra, esses filmes mesclam filmagens atuais com imagens do filme original, transformado em arquivo, e entrevistas realizadas anos atrás por Cláudio Bezerra. No entanto, também é importante considerar a estética desenvolvida por Coutinho ao longo dos anos, já que esses dois filmes se concentram nas conversas. O presente se reflete no passado.

Sobreviventes de Galileia explora a luta das Ligas Camponesas nas políticas públicas dos governos Lula e Dilma Rousseff, com foco em Duda/Dão da Galileia, um representante local do Partido dos Trabalhadores. Enquanto o filme de 1984 direcionava o protagonismo de João Pedro Teixeira para Elizabeth Teixeira, o filme Sobreviventes mostra a transferência desse protagonismo de Cícero, um antigo militante da Liga, para seu filho Wilson, que se adapta às mudanças políticas e aos movimentos como o MST no Brasil.

A família é o foco principal de Família de Elizabeth Teixeira, que inclui conversas com Elizabeth, seis de seus filhos, três netos e netas, e um irmão. Esse filme destaca os efeitos duradouros do trauma de 1964 e também explora o legado de Cabra. A ambivalência se torna evidente em Marinês, filha de Elizabeth e João Pedro, quando ela questiona por que sua mãe e seus irmãos nunca buscaram uma reintegração familiar mais assertiva após o diretor ter localizado os sobreviventes da família. “É como se você estivesse assistindo a um filme”, ela diz. “Você assiste a um bom filme, chora, sente, ri, mas não é a sua vida. É um filme.” A história da família, que se tornou um filme, sobreviveu como um filme, se reencontrou por meio de um filme, é também a história do filme que se tornou a família e a transformou em algo externo a ela mesma.

Mas, tornando-se um filme, essa história pôde ser vista e revista, em busca de passados, presentes e futuros que a transcendem e só se revelam com o tempo, já que o cinema pertence ao tempo e só existe no tempo. Quase 60 anos depois, o Cabra continua vivo.

 

Cabra marcado para morrer será exibido no IMS Paulista e no IMS Poços ►

https://ims.com.br/blog-do-cinema/cabra-marcado-para-morrer-por-fabio-andrade/