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China resgata o Brasil em 2023 e planeja investimentos sustentáveis para 2024

TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – As exportações brasileiras neste ano teriam uma queda de 3% sem a contribuição da China, de acordo com cálculos do Ministério da Indústria e Comércio (Mdic).

De janeiro a novembro, as vendas para a China cresceram 14,7% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto para o resto do mundo diminuíram em 4,1%, em linha com a projeção da Unctad (Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento) para uma queda de 5% no comércio mundial neste ano.

A expectativa é que as exportações brasileiras para a China superem US$ 100 bilhões em 2023, um feito inédito com qualquer parceiro comercial.

Até novembro, as exportações totalizaram US$ 95,3 bilhões. “A média mensal nos últimos meses tem sido de cerca de US$ 9 bilhões, e os dados preliminares apontam que dezembro seguirá nessa direção”, diz Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Mdic. “Portanto, é seguro dizer que alcançarão US$ 100 bilhões.”

É possível atribuir parte desse resultado à visita de Lula, nove ministros e 240 empresários à China em março e abril? Prazeres não responde diretamente, mas observa que ao longo do ano ouviu perguntas sobre a desaceleração chinesa e como isso afetaria o Brasil.

“O mundo todo acompanhou com muita atenção, mas nossas exportações se mostraram muito resilientes e contribuíram para um desempenho histórico, inclusive para o nosso superávit recorde”, diz ela, lembrando o caso do minério de ferro, que terminou o ano com aumento nas vendas, apesar da crise imobiliária chinesa.

Larissa Wachholz, que foi assessora especial do Ministério da Agricultura de 2019 a 2021, onde estabeleceu o Núcleo China, avalia que “a visita foi muito importante como marco de reaproximação sobretudo política, uma declaração que para os chineses importa”.

Ela acrescenta que o fato de a visita ter “combinado com a reabertura da China para o mundo foi elemento importante, que fez com que estivesse ali uma delegação enorme, apoiando essa reaproximação e buscando estar lá depois de um período em que todos foram obrigados a se ausentar” devido à pandemia.

Para Karin Costa Vazquez, que acaba de trocar Xangai por Brasília, para chefiar a agenda de reforma dos bancos multilaterais no Ministério da Fazenda, Brasil e China estão em um “momento de rearticulação” neste ano, marcado não só pela presença de Lula e empresários, mas por “um recorde de governadores, membros do Legislativo”.

Ao longo de 2023, estiveram na China os governadores de Bahia, Minas Gerais, Pará, Goiás e Mato Grosso do Sul, entre outros, e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, entre outros parlamentares.

Foi um ano também, diz Vazquez, de implementação do que Lula e Xi acertaram, como o pagamento em moedas locais, “que já teve as primeiras transações”. Vazquez sublinha que os cinco líderes dos Brics, neste ano, “designaram aos ministros de economia estudar como operacionalizar esse sistema”, para definição na cúpula de 2024, na Rússia.

Para o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Luiz Augusto de Castro Neves, “a retomada do diálogo entre os presidentes certamente contribuiu para dar um ímpeto adicional às relações, mas é preciso levar em conta que o comércio sino-brasileiro vem batendo recordes sucessivos há anos”.

“Além disso, o desempenho de 2023 reflete em parte decisões tomadas no fim de 2022, em particular a liberação das vendas de milho”, acrescenta.

Tanto Prazeres quanto Wachholz observam o movimento crescente na direção contrária, das inversões chinesas em energias renováveis e eletromobilidade.

“Já houve investimentos anunciados neste ano, como a BYD”, diz a secretária, adiantando que a produção da nova fábrica na Bahia começa em 2025. Junto com a montadora de carros elétricos, vêm fábricas de sua cadeia de suprimentos.

“A questão ambiental está presente em todas as reuniões, em todas as conversas” com a China, diz Wachholz, hoje sócia da Vallya Participações. “Isso se manifesta de forma concreta nos investimentos chineses no Brasil na área de energia, sobretudo, que receberam novos compromissos ao longo do ano.”

Ela lembra que o marco do primeiro empréstimo comercial em moeda chinesa para o Brasil, dois meses atrás, foi para o grupo chinês SPIC, com operações de energia hidrelética, eólica e outras no país, que recebeu R$ 886 milhões.

Segundo Castro Neves, “há uma clara tendência de ampliação de investimentos chineses em áreas ligadas à transição energética, descarbonização e tecnologia”. Isso mostra, acredita ele, como a China “pode, sim, contribuir para o processo de neoindustrialização do país”.

Escrevendo neste fim de ano no Renmin Ribao (Diário do Povo), o principal jornal do Partido Comunista e do país, a pesquisadora chinesa He Luyang também ressaltou os passos dados em 2023 para a cooperação de Brasil e China em economia de baixo carbono, proteção ambiental e mudança climática.

Integrante do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto Latino-Americano, na Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, ela avalia que “foi um ano importante na história das relações” bilaterais, que ganharam “um novo plano de desenvolvimento” com o diálogo estratégico de Lula e Xi, em abril.

Para 2024, com o marco em agosto dos 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas, He antecipa a integração da Iniciativa Cinturão e Rota, da China, “com os planos de reindustrialização e a nova versão do Plano de Aceleração do Crescimento do Brasil”.

Um dos movimentos identificados nessa direção, que se seguiu à presença da comitiva de Lula e outras posteriores, foi a ampliação na demanda de vistos para o Brasil, por executivos e funcionários de empresas chinesas, tanto para trabalho como para visitas prospectivas.

Está prevista para meados do ano a abertura de mais um consulado brasileiro, o primeiro no interior da China, para acompanhar a distribuição crescente do crescimento econômico chinês. Será em Chengdu, na província de Sichuan, somando-se à embaixada em Pequim e aos consulados em Xangai e Guangzhou (Cantão).

https://gazetadesorocaba.com/china-salva-ano-do-brasil-e-projeta-investimento-verde-para-2024/